Ao infectar o corpo humano, o novo coronavírus usa um conjunto de enzimas virais para atacar e inativar algumas proteínas importantes produzidas por nosso sistema imunológico — são as chamadas “proteases”. É o caso da "PLpro" que não só é capaz de quebrar proteínas do sistema imune, mas também aquelas associadas às funções cardiovasculares e ao processo de coagulação sanguínea, como revela um estudo publicado recentemente pelo periódico ACS Infectious Diseases. Isso, segundo os pesquisadores, pode ajudar a explicar alguns dos sintomas causados pela Covid-19.
A descoberta é resultado de um método computacional desenvolvido por cientistas do Centro de Ciências Bio/Moleculares e Engenharia (CBMSE) do Laboratório de Pesquisa Naval dos EUA, em Washington. A equipe construiu um banco de dados que reúne informações sobre todas as proteínas humanas que contêm as chamadas SSHHPS ou “sequências homólogas do hospedeiro-patógeno”, isto é, trechos de sequências de aminoácidos usados pelo coronavírus para destruir proteínas do hospedeiro. O objetivo era examinar suas funções e, em seguida, avaliar se a enzima PLpro seria capaz de quebrá-las.
Em testes in vitro, os pesquisadores observaram que a PLpro — que também desempenha um papel importante na replicação do novo coronavírus —, se mostrou capaz de quebrar e inativar sequências de seis proteínas humanas do tipo SSHHPS: MYH6, MYH7, FOXP3, ErbB4 (HER4) e S plasmática (PROS1).
Essas estruturas estão associadas a processos anticoagulantes, anti-inflamatórios e de contração muscular, o que, segundo o estudo, sugere que a sua quebra e inativação pelo Sars-CoV-2 pode estar por trás de alguns sintomas provocados pelo vírus, como lesão cardíaca, formação de coágulos sanguíneos e inflamação. “Os genomas virais contêm algoritmos e sua lógica pode se tornar a base de programas de computador que podem prever sintomas e virulência diretamente a partir de sequências virais”, escrevem os pesquisadores.
No artigo, os especialistas usam a metáfora de um computador para explicar o raciocínio: os vírus, à semelhança dos programas de computador, carregam um código (o genoma), que gera uma saída específica (um conjunto de sintomas característicos). Segundo o documento, associar a sequência de um genoma viral a um grupo de sintomas ainda é “um desafio de longa data na bioinformática viral”.
A equipe também realizou a mesma análise para as proteases virais do vírus zika e, de forma semelhante, identificou a quebra e inativação de proteínas humanas associadas ao desenvolvimento e distúrbios neurológicos — que também são consistentes com os sintomas causados pelo patógeno. “Embora mais dados ainda sejam necessários para confirmar as tendências, nossos dados e previsões in vitro sugerem uma correlação interessante entre os locais de clivagem da protease e o fenótipo induzido por vírus”, concluem os pesquisadores.
Fonte: Revista Galileu
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