O COVID-19 afeta principalmente o sistema respiratório, ao qual se dedica maior importância e cuidado. Porém, alguns meses depois do início da pandemia, tem sido descrito um número considerável de casos em que há também o comprometimento das funções neurológicas do paciente.
Sintomas inespecíficos como dor de cabeça e tontura, além de implicações mais grave como alterações de consciência, crises convulsivas, acidentes vasculares cerebrais (AVC), incoordenação motora e fraqueza muscular, fazem parte do panorama clínico da doença. De acordo com o dr. Ronaldo Abraham, Diretor Científico da Associação Paulista de Neurologia (APAN), é possível dizer que o novo coronavírus tem afinidade e atração pelo sistema nervoso.
“O vírus age no aumento da expressão de um receptor de invasão celular, o ACE2 (enzima conversora da angiotensina), responsável por facilitar o processo de infecção das células pulmonares. O ACE2 existe em todo o organismo, sendo abundante no sistema nervoso”, explica o neurologista.
Um dos sinais mais marcantes é a perda do olfato, que provavelmente indica o caminho traçado pelo agente invasor até as funções neurológicas. Complicações mais graves nesse sentido poderão contribuir para a ampliação das taxas de mortalidade, assim como o desenvolvimento de algumas deficiências (sequelas).
Novas descobertas
“Os estudos a respeito da interseção entre o COVID-19 e a Neurologia começam a se avolumar na literatura, e isso trará um conhecimento cada vez maior”, aposta dr. Abraham. No Brasil, os médicos começam a se organizar na tentativa de unificar protocolos e agrupar as manifestações neurológicas que aqui ocorrerem. “Felizmente, como não temos tantos casos quanto outros países, ainda não há material suficiente para publicação de novas pesquisas. O que nós, neurologistas, estamos fazendo é auxiliar na divulgação de informações e orientações”, afirma o especialista.
Maiores preocupações
Como já se sabe, portadores de hipertensão arterial e diabetes são alvos preferenciais do COVID-19. Além deles, pacientes de doenças autoimunes como esclerose múltipla e miastenia gravis, os quais fazem uso de medicação que interfere na capacidade de reação do organismo a infecções, também estão no grupo de risco e merecem atenção especial.
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