Os sintomas neurológicos já eram apontados em muitos doentes. Agora há vários estudos que vem corroborar os diagnósticos
Há cada vez mais provas de que a infeção por SARS-CoV 2 provoca problemas neurológicos em muitos pacientes. Em Espanha, milhares de doentes foram acompanhados em vários estudos, que, de acordo com o jornal El País, vêm corroborar que a maioria dos pacientes desenvolveu pelo menos um sintoma neurológico.
E o leque de sintomas vai desde simples cefaleias até estados de coma. Os estudos apontam mesmo que os problemas neurológicos foram mesmo responsáveis por um número significativo dos óbitos. A explicação pode estar numa resposta excessiva do sistema imunitário à infeção, mas há dados que apontam para a possibilidade de o vírus atacar diretamente o cérebro.
Neurologistas britânicos já tinham divulgado na publicação científica Brain um estudo com mais de 40 participantes que procura alertar para as sequelas da Covid-19 no cérebro, mesmo dos doentes com sintomas leves da doença. Em algumas casos, segundo a pesquisa, o problema neurológico é o primeiro e único sintoma da Covid-19; noutras situações, é detetado em pessoas com manifestação ligeira da doença ou até em doentes a recuperar do vírus.
Os estudos mais recentes foram compilados pela Sociedade Espanhola de Neurologia e vão desde a ligação da infeção a uma perda de olfacto a uma investigação sobre cefaleias. Um dos estudos procurou ligações entre a Covid-19 e acidentes cardiovasculares e acompanhou mais de 1.600 infetados.
O estudo mais significativo, de acordo com o El País, foi apelidado de registo Albacovid e avaliou as manifestações neurológicas em 841 doentes internados nos hospitais de Albacete. Os resultados foram publicados na revista médica Neurology e mostram que 57,4% dos doentes desenvolveram um ou mais problemas neurológicos.
Entre os problemas mais comuns apresentados estavam as mialgias (dores musculares de origem nervosa), dores de cabeça e tonturas. Apesar de ressalvarem que o estudo envolveu muitos pacientes de idade avançada, os investigadores notam também que 20% apresentaram algum tipo de alteração ao estado de consciência. Outros 20% desenvolveram algum tipo de transtorno neuropsiquiátrico, incluindo insónias, avança o chefe de serviço do Hospital Universitário de Albacete e coautor do estudo, Tomás Segura.
Alguns dos sintomas, como as mialgias, as insónias ou as cefaleias, não tinham sido observados noutros estudos”, sublinha Tomás Segura, também professor da Universidade de Castilla-La Mancha.
Embora em percentagens menores, os investigadores detetaram também miopatias, disautonomias e apoplexias. Numa percentagem inferior a 1%, os investigadores detetaram ainda convulsões, transtornos do movimento e encefalite.
As complicações neurológicas foram mesmo a principal causa de morte de 4% os mortos pelo novo coronavírus.
Outro estudo analisou 909 doentes tratados nos hospitais de Madrid. Em cerca de 90% dos casos, houve alterações do paladar ou do olfacto. Os investigadores ressalvam que outras infeções víricas também provocavam estes sintomas, mas tal era atribuído a alterações das muscosas. Neste caso, muitos dos pacientes não apresentavam qualquer outra sintomatologia, nem congestão nasal. Levanta-se assim a hipótese de as alterações dos sentidos do paladar e do olfacto decorrer de uma ação direta do vírus no sistema nervoso central.
Fonte - TVi 24
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