A “Neurology Today”, no site da Academia Americana de Neurologia, publicou mensagens de médicos neurologistas italianos para colegas médicos americanos, abordando condições neurológicas nos pacientes acometidos com Covid-19 na Itália.
Muitos dos leitos hospitalares na Itália estão ocupados por pacientes com teste positivo para Covid-19 ou suspeitos. Uma luta diária, literalmente uma guerra contra a doença, e infelizmente muitos estão perdendo. Os números na Itália já passam de 100 mil casos positivos e 14 mil mortes.
Segundo Alberto Priori, MD, PhD, professor de neurologia e diretor do departamento de neurologia clínica da Universidade de Milão, Hospital Universitário San Paolo, os leitos de neurologia geral e as unidades de acidente vascular cerebral (AVC) foram fechados para os casos de neurologia e são dedicados a pacientes com Covid-19.
Não existem, no momento, neurologia ambulatorial. Segundo Priori, todos os neurologistas da área fazem parte das equipes do Covid-19 que incluem várias especialidades e devem ser treinados para ventilação mecânica e ajudar outros colegas.
Segundo professor Priori, o vírus é extremamente infeccioso e todos devem ser treinados para o uso de EPI (equipamento de proteção individual). Não basta ter o equipamento, mas todos precisam conhecer seu uso, pois muitos se infectam no manuseio errado destes.
Cada especialidade apresenta um “olhar” diferenciado do paciente, como o número de neurologista italianos na linha de frente é grande, despertou a atenção para a possível neurovirulência por este vírus e o possível envolvimento do Sistema nervoso.
Segundo Alessandro Padovani, MD, professor de neurologia e diretor do Instituto de Neurologia da Universidade de Brescia, a neuroinvasão geralmente ocorre por via hematogênica ou por transporte axonal envolvendo nervos olfatório, trigêmeo, glossofaríngeo e vago. Nas últimas semanas, surgiram relatórios da China, Coreia do Sul e Itália, sugerindo que os portadores da Covid-19 podem sofrer de hiposmia.
Alessandro Pezzini, MD, professor associado de neurologia da Universidade de Brescia e seus colegas já abriram uma unidade de neuro-COVID-19, devido ao alto número de pacientes com sinais e sintomas neurológicos com resultado positivo. Os pacientes confirmados com Covid-19 são tratados para AVC, distúrbios psiquiátricos, crises convulsivas e síndromes neurológicas inespecíficas que se parecem muito com encefalite. Pacientes com AVC que não estão muito comprometidos por insuficiência respiratória são tratados com ativador de plasminogênio tecidual e/ou trombectomia mecânica.
Segundo professor Pezzini, há um aumento dramático no número de eventos vasculares, provavelmente devido ao vírus que afeta os mecanismos de coagulação, pois eles não conseguem identificar outra causa para os acidentes vasculares que não seja o vírus.
Embora não esteja claro se essas síndromes neurológicas são uma causa direta do vírus que entra no sistema nervoso central (SNC) ou uma resposta indireta à tempestade viral, os neurologistas de Brescia pedem para que os médicos estejam atentos para queixas, sinais e sintomas neurológicas agudas nos pacientes doentes. É natural que a maioria dos casos com grave comprometimento sistêmico e respiratório obscurece a detecção de sutis alterações neurológicas. Além disso, a prioridade nesta fase de pandemia é a estabilização hemodinâmica e respiratória.
Segundo professor Padovani, os sintomas neurológicos em pacientes com infecção por Covid-19 se enquadram em três categorias: Sinais e sintomas neurológicos de doença subjacente (cefaleia, tontura, rebaixamento do nível de consciência, ataxia, crises convulsivas e AVC); sintomas de origem periférica (hiposmia e neuralgia) e sintomas de lesão do músculo esquelético, frequentemente associados a danos no fígado e nos rins.
Os chineses relataram dados de 214 pacientes em três hospitais de cuidados aos pacientes Covid-19. Eles relataram que 78 dos 214 pacientes tiveram manifestações neurológicas. Os pacientes mais graves provavelmente apresentavam sintomas neurológicos, como doenças cerebrovasculares agudas; rebaixamento do nível de consciência e lesão muscular esquelética.
Segundo professor Alberto Priori, a cefaleia, confusão mental, anormalidades no paladar e no olfato, dor muscular e fraqueza grave são as manifestações (neurológicas) mais comuns. Acrescenta em sua mensagem que eles também podem ser causados por uma infecção sistêmica, mas acredita que pode haver alguma disfunção neurológica que contribua para a gravidade do comprometimento respiratório.
Kenneth L. Tyler, MD, chefe de neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Colorado, alerta que podemos ver complicações pós-virais mediadas por imunidade, como encefalomielite disseminada aguda e síndrome de Guillain-Barré, já que ocorreram em pacientes com SARS e MERS.
Giancarlo Logroscino MD, PhD, professor de neurologia e diretor do Centro de Doenças Neurodegenerativas da Universidade de Bari em Tricase afirma que os neurologistas (e todos os especialistas médicos) precisam descobrir como cuidar de seus próprios pacientes durante esta pandemia. Segundo ele, foi preciso mudar o sistema para apoiar seus pacientes neurológicos em suas residências. Optaram pela videoconferência.
Professor Priori, afirma: “Estamos em um ambiente de guerra”.
Autor: Felipe Resende Nobrega – Residência Médica em Neurologia (UNIRIO) • Mestre em Neurologia (UNIRIO) • Professor de Clínica Médica da UNESA
Fonte: Pebmed
Comments