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Estudo brasileiro para tratamento AVC é apresentado em congresso internacional

A pesquisa Resilient comprovou a eficácia da trombectomia mecânica



O Congresso Europeu de Acidente Vascular Cerebral (AVC), considerado o evento mundial mais importante da área, abriu portas para a apresentação do estudo brasileiro denominado “Resilient”. Em Milão, na Itália, neurologistas relevaram a comprovação da trombectomia mecânica como tratamento para o AVC e sua eficácia no Sistema Único de Saúde, o SUS.


De acordo com a pesquisa, a utilização desse método levou ao aumento de 21 a 35% da independência funcional do paciente. Além disso, foi constatada a redução de 16% da mortalidade ou dependência grave quando comparado a tratamentos clínicos. É a primeira vez que um estudo dessa natureza é realizado em um país em desenvolvimento.


O congresso foi realizado com a presença de cerca de 5.600 participantes de diferentes nacionalidades. Sheila Martins é membro do Departamento Científico de Doença Cerebrovascular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e vice-presidente da Organização Mundial de AVC. A especialista, responsável pela apresentação no evento, acredita que a participação foi fundamental para a divulgação do estudo.


“Teve uma grande repercussão, havia pessoas do mundo inteiro. Neurologistas da América Latina  ficaram emocionados com o resultado. Foi importante para mostrar que o Brasil sabe fazer um grande estudo de importância internacional como esse”, pontuou.

A aceitação para participar do congresso foi uma surpresa. Após os neurologistas envolvidos no projeto submeterem os resultados, o estudo foi aprovado e encaminhado para a sessão de abertura denominada “Late Breaking Trials”. Sheila relatou que “A repercussão foi maior do que imaginávamos, fomos considerados o melhor estudo do congresso pela importância em mudar não só o cuidado com o AVC no Brasil, mas também em outros países em desenvolvimento”.


Gisele Sampaio também participou da pesquisa. Professora livre docente da disciplina de Neurologia Clínica da Universidade Federal de São Paulo e primeira secretária da ABN, ela conta que o retorno do público após a apresentação no evento foi emocionante “Recebemos muitas congratulações pela resiliência do grupo brasileiro de seguir em frente e responder a uma pergunta tão importante em saúde pública, refletindo a realidade da maior parte dos países do mundo”.


O ESTUDO

A palavra adotada para nomear a pesquisa não foi escolhida por acaso. O termo americano “Resilient” significa “Resiliência”, em português e indica a capacidade de se adaptar às mudanças. Segundo a Dra. Sheila, a definição reflete bem a experiência dos médicos com o AVC no Brasil: “Passamos por muitas coisas e foi um grande trabalho para chegar ao ponto que estamos hoje. Tivemos alguns tombos no meio do caminho para melhorar a assistência ao AVC no país, mas a gente sempre se recupera.”, acrescentou.


Durante dois anos, de 2017 ao início de 2019, neurologistas se mobilizaram em 12 centros nacionais distintos. Através da verba do Ministério da Saúde, visava avaliar se o tratamento endovascular  (a trombectomia) era superior ao melhor tratamento clínico padrão em até 8 horas após o início dos sintomas em pacientes com oclusão de grandes vasos. Esse método implica em uma espécie de cateterismo, no qual o cateter alcança o vaso cerebral obstruído e realiza a incorporação ou aspiração do coágulo, dependendo do dispositivo utilizado.

Inicialmente, o estudo envolveria 690 pacientes. Entretanto, logo na primeira análise foi detectado o nível superior do método comparado ao recurso clínico mais indicado. Segundo a pesquisa, há 2,6 mais chances de conquistar a independência em atividades diárias ao passar pela trombectomia.


O estudo é o primeiro realizado em um país em desenvolvimento e esse, entre outras questões, foi um dos impasses para o início do projeto. O tratamento já havia sido comprovado em outros ensaios clínicos, porém, todos foram realizados em países desenvolvidos como os Estados Unidos, Canadá, Espanha, Holanda e Austrália.  As condições encontradas no Brasil diferem significativamente das encontradas nessas localidades, implicando em dúvidas da efetividade do método.


“No Brasil, os pacientes chegam mais tarde ao hospital, a logística necessária é muito maior e complexa. Há pouco acesso à reabilitação pós-alta, fazendo com que não haja uma boa recuperação. Na maioria dos lugares, o sistema hospitalar não está organizado para levar essas pessoas aos centros adequados”, comenta Sheila.


A expectativa é que o tratamento chegue o mais rápido possível ao acesso da população. Segundo os idealizadores, o estudo se mostrou custo-efetivo, ou seja, é um gasto pequeno para o Governo, quando comparado ao que o paciente ganha em termos de qualidade de vida. Dessa forma, os custos para a saúde pública do país são reduzidos.


O coordenador da Rede Nacional de Pesquisa em AVC, Octávio Marques Pontes Neto fez parte do projeto. Para ele, o estudo superou todas as dificuldades “É um marco para a neurologia brasileira e para a pesquisa clínica no SUS. Mostra que o Brasil tem enorme potencial científico a ser explorado e pode ser uma liderança em pesquisa entre os países em desenvolvimento”.

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